Lugares de interés (POIs) del Mapa
0: Porto Alegre
Bêbados, no banco de trás do carro de alguém, indo para algum lugar. Acho que nos beijamos por tristeza.
Más sobre Porto Alegre1: Buenos Aires
Enquanto o homem que eu esperava não vinha haviam muitos outros passeando por San Telmo. Bebemos Quilmes e monipolizamos a junk-box com canções de Los Fabulosos Cadillacs. Borrachos, nos besamos en la calle. Não lembro seu nome, talvez tenha sido Fernando.
Más sobre Buenos Aires2: São Paulo
Na Rua Augusta, em um inferninho qualquer. Indo para o bar, um homem me roubou um beijo. Nunca vi o seu rosto mas berrei "vai pra merda, escroto" para todo mundo ouvir.
Más sobre São Paulo3: São Bernardo do Campo
Primeiro nos beijamos no Rio, depois foi em São Paulo. Até hoje, quando nos vemos, não sei se devo beija-lo.
Más sobre São Bernardo do Campo4: Rio de Janeiro
Da onde eu vim também vieram muitos dos homens que eu beijei. Em cinemas, em pontos de ônibus, em boates, em bares, às vezes sem querer, às vezes por solidão, às vezes por tédio, às vezes por desejo apenas de beijar, deslocado em outros lábios. Beijei aqui também muitos homens que vieram de muito longe. É uma cidade de porto.
Más sobre Rio de Janeiro5: Teresópolis
No chão frio da lavanderia escura, nos sentávamos ao redor da garrafa que girava. Eu tinha doze anos e tinha medo do escuro. A garrafa parou e nos ligou através do círculo. Beijei-o com muito nojo. Era filho de um dos caseiros da rua. Muito feio, os olhinhos negros juntos um do outro, os dentes ruins. Apesar de mais velho do que eu, tinha a minha altura. Me arrependi imediatamente. No dia seguinte brincamos todos de pique esconde como se nada tivesse acontecido. Ele era um gênio do pique-esconde. Sempre ganhava e nunca tinha que procurar ninguém.
Más sobre Teresópolis6: Niterói
A arquitetura dos beijos é suave e delicada. Ponte invisível erguida entre lábios.
Más sobre Niterói7: Santos Dumont
Passei por Santos Dumont muitas vezes, mas nunca entrei na cidade. Vista pela estrada é uma cidade horrenda.
O beijei antes de ir embora. Disseram que ele nunca beijava ninguém, era um celibatário de trinta anos. Mas ele me beijou e eu me senti bem por ter sido esta mulher.
Más sobre Santos Dumont8: Fortaleza
Ele acendia o meu cigarro sempre, mesmo que eu tivesse o isqueiro na mão, mesmo que o isqueiro já estivesse se encaminhando em direção ao cigarro. Dizia que era algo que gostava de fazer. Estava no Rio por poucos dias, em breve voltaria para Fortaleza. Era gentil, me levou em casa, e nunca mais nos vimos.
Más sobre Fortaleza9: New York
Nos conhecemos em um bar quando eu pedi o isqueiro. Ele elogiou o meu inglês e começamos a conversar. Conversamos a noite inteira, eu e os amigos dele. Depois que o bar fechou, fomos todos para a praia assistir o nascer do sol. Fui eu quem o beijou. Ele se afastou, segurou os meus pulsos e disse "Não. Não devemos. Por mais que eu queira, não devemos. E eu quero muito. Eu quis a noite inteira. Mas não devemos."
Eu fiquei me irritei, levantei e me afastei o mais depressa que pude, com os sapatos de salto na mão, limpando a parte de trás da saia. Ele correu atrás de mim, me tocou no ombro. "I'm sorry", ele disse sorrindo. Eu sorri também. "Está tarde." Ele riu "Não, está cedo." Eu sorri e fui andando, com os meus sapatos na mão.
Más sobre New York10: Kansas City
Ele tinha o rosto saudável e corado, como se trabalhasse ao ar livre. Olhos azuis claros. Estava hospedado na minha casa. O levei para o corcovado, o dia estava nublado, não conseguimos ver o rosto do Cristo Redentor (ou, "the dude", como ele chamava).
Antes de ele ir embora, lhe disse que no mês seguinte o homem que eu amava, o meu namorado, iria vir me visitar. Ele pareceu ficar muito perturbado com aquilo, se sentiu traído. Ele fez uma piada cruel "Então é isso que você faz, Julia, recepciona todos os gringos assim?" Eu não fiquei enraivecida, eu fiquei triste. Ele pediu desculpas e me beijou
"I'm sorry, baby, it was a bad joke."
"It really was."
Más sobre Kansas City11: La Habana
Ele tinha sempre um cheiro de tabaco. Não era cheiro de cigarro, mas de tabaco, um cheiro doce e forte, para mim delicioso.
Nos beijamos quando estavamos bêbados de rum.
Más sobre La Habana12: Dublin
Estavamos em um pub irlandês no Rio. Ele tinha a voz belíssima, descarnada de um corpo roliço e desajeitado que não condizia com a beleza daquela voz. Ele me pagou uma Guiness e eu, em agradecimento, lhe disse que ia cantar uma canção irlandesa. Eu cantei Mickey McGuire. Ele ficou abismado com eu conhecer a canção. Me arrastou pelo bar e dizia, para os outros irlandeses "Essa menina é brasileira, nunca botou os pés na Irlanda. Agora canta, Julia, canta". E eu, de Guiness na mão, cantava Mickey McGuire. No fim da noite nos beijamos na porta do bar. Foi quase como beijar um irmão.
Más sobre Dublin13: London
Ele estava sentado em um banquinho, tocando violão. Tocava muito bem, tocava canções folk norte-americanas e algumas coisas britânicas. Me olhava as vezes, mas não o bastante para justificar eu ter ido lá e sussurrado em seu ouvido "Come Into My Kitchen, Robert Johnson". Ele honrou o meu pedido. Depois se sentou comigo. Bebemos e conversamos. Nos beijamos apaixonadamente na frente de todo o bar. Depois ele me levou em casa. Fomos pela praia, ele tocava gaita, fizemos uma algazarra desgraçada da qual ninguém reclamou. Quando ele pediu o meu telefone eu neguei, lhe disse que estava apaixonada por um outro homem. Pedi que ele não me procurasse. "Vamos ter essa noite."
No dia seguinte, na portaria, havia um bilhete para mim. O porteiro me entregou e disse "Aquele rapaz que estava com você ontem deixou isso depois que você subiu". Eram alguns versos, entitulados "Blues About Julia" que se dividiam em quatro estrofes se apropriando de Love In Vain e fazendo referências a noite anterior.
Não tive como não ligar pra ele.
Más sobre London14: Napoli
Eu percebi que ele me olhava enquanto eu dançava. Ele me olhava muito enquanto eu dançava e eu comecei a dançar para ele. Ninguém sabia que eu estava dançando para ele, mas eu estava. Não nos beijamos naquela noite, apesar de ele olhar para mim o tempo todo.
Nos beijamos depois, na mesa do restaurante mais antigo do Rio de Janeiro. Ele depois me disse que sentia vergonha alheia pelas pessoas que dançavam.
Más sobre Napoli15: Milano
Eu e S. ficamos o carnaval inteiro para cima e para baixo com os três milanêses. Eles eram engraçados, mas muito grossos e arrogantes. Antes de eles irem, já estava meio de saco cheio da grosseria e da arrogância. Mas, antes disso, beijei um deles. O mais bonito.
Más sobre Milano16: Amsterdam
Eu quis beija-lo desde a primeira vez que o vi, em Nashville. Eu queria beija-lo o tempo todo, pelo tempo todo. Nunca achei que aconteceria. Ele tinha o dobro da minha idade. Nunca aconteceria. Ele tinha 34, eu tinha 17. Nunca aconteceria. Ele morava em Amsterdam. Nunca aconteceria.
Andando pela Rua das Acácias, lado a lado, mãos dadas. Ele parou subitamente, se virou para mim e me beijou suavemente. Aconteceu.
Más sobre Amsterdam17: Praia
Do meio deste pontinho no meio do mar, veio um homem que eu beijei em uma sinuca esfumaçada de Botafogo.
Más sobre Praia18: Madrid
Eu pedia para ele falar, para eu ver e ouvir o som da língua entre os dentes:
"Say it again"
"Corazón"
"Again"
"Corazzzzzzón"
"Again"
"Corazón, corazón, corazón, corazón".
"Corazón"
"Corazón"
"We have a word that cannot be translated: saudade. What is the untranslatable spanish word?"
"I have to think about it. I'll get back to you on that one".
Ainda estou esperando, mas acho que desisti.
Más sobre Madrid19: Beirute
Ele me disse que eu beijava como uma menina, e não como uma mulher. Disse, enquanto acariciava meu cabelo, que não se beija só com os lábios e a língua, se beija, acima de tudo, com as mãos.
Más sobre Beirute20: Natal
Ele tem o nariz lindo, viril, e os olhos verdes. Nos beijamos no táxi, bêbados e alegres. A vida pode ser uma festa.
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